Geladinhos de espumante, gourmet e acarajé delivery: baianos apostam na criatividade para ganhar dinheiro no verão

Quando passa com sua bicicleta amarela pelas ruas do bairro de Periperi, em Salvador, a técnica em automação Émile Dantas, de 25 anos, já é logo reconhecida pelos moradores. Ficou famosa, além da irreverência, pelos geladinhos que vende, com sabores diferenciados, gourmets e até com teor alcoólico para se diferenciar dos demais vendedores do produto.

A baiana é uma das pessoas que estão apostando na criatividade, sobretudo com relação a produtos já bastante conhecidos, para ganhar um dinheiro extra no verão. Tem gente até aumentando tamanho de acarajés e abarás e fazendo a entrega dos quitutes em domicílio, ou mesmo lançando no mercado produtos como geladinhos de espumante.

No caso de Émile, a ideia de inovar nos sabores do geladinho – os clientes encontram até de catuaba -, e usar uma bicicleta para ir de casa em casa vender o produto, veio depois que a família dela se viu diante de uma dívida inesperada.

“A gente estava precisando pagar essa dívida e minha mãe já estava desesperada. Foi então que tivemos a ideia de fazer alguma coisa para vender, para juntar dinheiro. Pensamos, inicialmente, em bolo de pote, mas depois mudamos de ideia e optamos por geladinho”, disse.

Mesmo contando com apenas R$ 50 no bolso, a ideia foi colocada em prática em setembro de 2017, segundo ela. “A gente viu no You Tube algumas pessoas fazendo geladinho alcoólico e decidimos fazer também”, diz.

“Lembro que só tinnha R$ 50, comprei os materiais e comecei a fazer”, conta.

Segundo ela, o dinheiro foi recuperado rapidamente, o que motivou a empreendedora a continuar. “O dinheiro que eu investi eu consegui recuperar em dois dias. O pessoal gostou e ia pegar em casa”, disse.

Ela ainda relatou que a propaganda “de boca em boca” deu certo. “O negócio foi crescendo porque as pessoas foram falando com as outras, e aí eu passei a sair pra entregar. Hoje, o que os clientes mais gostam são os de catuaba. É uma febre”, aponta.

Émile diz que, no início, ia para as ruas à pé vender o produto. Depois, conseguiu comprar uma bicicleta por R$ 140 para auxiliar nas vendas – a bike passou a ser chamada pelos clientes e por ela de “gelamóvel”. Como o negócio foi crescendo, atualmente conta até com serviço de mototaxista para as entregas em outros bairros.

Os clientes que fazem pedidos a partir de cinco unidades recebem em casa os produtos, com taxa de entrega. A mulher diz vender, por dia, até 150 geladinhos, cada um a R$ 2.

Além do de catuaba, proibido para menores de 18 anos, os geladinhos de leite ninho com nutela e musse de maracujá fazem sucesso. Todos são amarrados com fitinhas decorativas. Ela também vende sob encomenda para festas como casamentos e aniversários.

“A entrega é delivery, e as pessoas podem pedir pelo WhatsApp. Tem os que são gourmet, os de frutas e os alcoólicos: catuaba cremosa, caipigela de morango. A partir de cinco, eu entrego na porta”, conta.

Émile ainda disse que um rapaz faz transporte de moto, nas quartas e sábados, para bairros mais distantes. “A gente estabelece uma rota e ele sai entregando. Nos outros dias, eu entrego de bicicleta para os moradores daqui do bairro”, conta. Ela também foi a responsável pela criação da marca do produto: “Gelado Gourmet”.

A dívida que a motivou a vender geladinhos já foi quitada. Agora, Émile espera expandir ainda mais o negócio, sobretudo para pagar as contas de casa, já que ela, o irmão e a mãe estão desempregados.

“Queremos chegar a mais bairros, a mais eventos. Ainda não dá pra pagar todas as despesas. É apenas um complemento de renda, mas dá pra ir tocando. A família toda já está envolvida no negócio: eu, meu irmão, meu pai e minha mãe”, disse.

“Consigo vender mais nos finais de semana, mas agora no verão a coisa aumenta. A gente vai começar a ir nas praias, mas para isso teria que conseguir um carro. Já estamos viabilizando”, completou.

Geladinho de espumante

A arquiteta Adriane Trindade, de 26 anos, também aposta nos geladinhos para ganhar um dinheiro extra, mas com um diferencial: ela faz e vende geladinhos de espumante. Assim como Émile, também idealizou uma marca e recorreu às redes sociais para divulgar o “Geladon”, mistura de geladinho com Chandon, espumante usado no produto.

“A gente começou com isso no ano passado. Fiquei sabendo de um pessoal que já fazia isso no Rio, e eu sempre gostei de beber, sobretudo champanhe e espumante. Então, resolvi misturar”, conta.

Segundo ela, o primeiro “Geladon” foi feito para consumo próprio. Depois, ela fez uma grande quantidade para o casamento de uma amiga e o produto foi aprovado. “Foi então que resolvi expandir a ideia e a criar parcerias – algumas delas vão começar esse ano”, disse.

O geladinho é servido dentro de uma taça personalizada com a marca do produto. Cada unidade sai por R$ 10, mas o foco de Adriane, no entanto, é na venda no atacado, para eventos, como casamentos e desfiles.

Tem geladinho de morango, que, segundo ela, é o mais pedido, coco, acabaxi, maracujá e chocolate. Todos são com o mesmo tipo de espumante e são proibidos para menores de 18 anos.

“É uma ideia bacana, legal, e, conforme fomos expandindo o negócio, procuramos prezar ainda mais pela qualidade. Para cada quantidade de morango, por exemplo, vai uma quantidade específica de espumante”, conta.

“O espumante é misturado ao sumo de frutas naturais”, revela.

Adriane conta que as pessoas mandam e-mail pedindo orçamento ou entram em contato pelo Instagram. “É lucrativo quando a gente vende em quantidade”, diz.

Para fazer os geladinhos, Adriane conta com a ajuda de uma colega. Ela quer melhorar a linha de produção e chegar a um número maior de clientes, sobretudo nas cidades próximas de Salvador. Atualmente, vende na capital, Feira de Santana, Guarajuba e Praia do Forte.

“No réveillon, vendemos bastante. Agora, a meta é se organizar melhor. No início, era uma coisa bem caseira, mas a gente percebeu que isso poderia virar um negócio e temos que ter cuidado com o produto”, disse.

Segundo Adriana, a ideia é aumentar a produção e profissionalizar ainda mais. “Sobretudo agora com o verão, que é uma época de muita festa e tem muita gente viajando e querendo coisas novas”, destacou.

Acarajé delivery

O jovem Caique Lopes, 24 anos, também teve uma ideia inovadora. Após ser demitido do último emprego, resolveu arriscar com outros produtos bastante conhecidos: o acarajé e o abará. Resolveu aumentar o tamanho dos quitutes e ainda entregar para as pessoas em casa.

“Tive a ideia em 2013, mas só coloquei em prática em 2016. Fiquei desempregado por dois ou três meses, e foi então que tive que dar um jeito de ganhar dinheiro. Não fomos os primeiros a fazer acarajés e abarás de 1kg, mas, aqui em Salvador, fomos os primeiros a entregar em domicílio”, conta.

“O delivery não tinha aqui. Eu pesquisei e realmente não tinha. Então, a inovação estava aí”, relata.

“Para ter o capital inicial, tive que vender a moto”, destacou.

Solteiro, Caique conta que não sabia nada sobre acarajé e abará, e que aprendeu a fazer as iguarias assistindo vídeos no You Tube. No início, tinha um ponto fixo de venda no bairro do Engenho Velho de Brotas, mas não conseguiu se manter no local, que era alugado.

“Eu tinha esse ponto e também já entregava nas casas. Percebi que 80% das vendas era delivery e foi então que passei a vender somente fazendo entregas em domicílio. As pessoas fazem os pedidos por telefone fixo ou então pelo WhatsApp”, diz.

Hoje, o jovem conta com o apoio de uma baiana de acarajé para fazer os produtos. Ele colocou um anúncio na intenet para contratar a cozinheira. Atualmemte, também conta com serviços de motoboys para fazer a entrega dos acarajés e abarás. Diz que chega a vender 40 quitutes por dia. Cada um custa R$ 8 (sem camarão) ou R$ 10 (com camarão).

“Fazemos entregas em boa parte de Salvador, exceto bairros mais distantes como a região de Itapuã, Mussurunga. Antes, os quitutes iam no papel, mas chegava todo melado na casa do clientes. Agora, são entreges em vasilhas descartáveis. Está dando muito certo e a gente sempre tenta aprimorar”, relata.

“Nossa meta, agora, é abranger Salvador toda e também as cidades da região metropolitana, como Lauro de Freitas, Simões Filho, Camaçari, e até Feira de Santana”, conta.