Pirâmide do emprego lesa candidato com taxa ilegal

Um país com mais de 12 milhões de desempregados é terreno fértil para falsas promessas de trabalho. Investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Polícia Civil, Fábio Alexandre Adrion de Moraes é acusado de aplicar o golpe da pirâmide do emprego, que já lesou pelo menos mil pessoas.

Segundo denúncias, o golpe funcionava assim: uma empresa que se apresenta como importadora, a IDM Importação, arregimenta pessoas em busca de trabalho, assinando suas carteiras ou firmando contratos, com salário fixo. O trabalho dos contratados consistia em atrair mais pessoas, que, por sua vez, arregimentavam outras, formando uma pirâmide.

A promessa que teria sido feita em palestras que lotavam auditórios com mais de cem pessoas era de que o trabalho seria, inicialmente, o de trazer novos trabalhadores. Mas, em algum momento, que variava de um evento para o outro, os funcionários se tornariam promotores de vendas de um site de importação. Moraes citava como exemplo sites Amazon e AliExpress para convencer de que a oferta era séria.

ESCRITÓRIO TEMPORÁRIO

O lucro do golpe vinha do pagamento de taxa de R$ 50 para fazer um curso sobre importação, que seria imprescindível, segundo Moraes, para a função quando o site estivesse no ar. O curso se limitava a uma apostila on-line, de poucas páginas, com instruções de como comprar na internet, explica o procurador do Trabalho Rodrigo Carelli, autor da ação contra a empresa. Para disfarçar, diziam que quem tivesse algum curso de importação estaria livre da taxa. Mas a empresa precisava autenticar o certificado, a um custo de R$ 50:

— Uma amiga da minha esposa, sabendo que eu estava desempregado há mais de um ano, ligou, garantindo que o emprego era seguro. Ele (Moraes) tem uma oratória excelente. No dia que eu fui, tinha cerca de 50 pessoas no auditório e mais umas 40 na portaria esperando para entrar. Assinavam a carteira em uma semana, mas depois sumiam. Até hoje não consegui dar baixa na minha carteira — afirma um dos trabalhadores prejudicados, que preferiu não se identificar, temendo represália.

Na 5ª DP, da Polícia Civil, foram feitas 30 queixas, mas há outras espalhadas por delegacias da cidade. Estima-se que, no mínimo, mil pessoas tenham sido vítimas. Mas, a cada dia, mais uma vítima aparece. Segundo Carelli, a empresa abria e fechava escritórios, do Centro a Jacarepaguá. O golpe acontece desde o fim de 2017:

— Eles são realizados em tempo curto, para atrair o máximo de pessoas no menor tempo. Conseguimos localizar cinco endereços diferentes da empresa.

O procurador alerta que qualquer cobrança para conseguir uma vaga de emprego é ilegal:

— O trabalhador não deve pagar nada ou realizar serviços para conseguir emprego. Toda a despesa de seleção e contratação é do empregador. Temos outra denúncia sendo investigada: para que o vendedor fosse contratado, ele precisava trazer três contratos assinados para comprovar a sua capacidade.

No caso da IDM Importações, segundo a ação do MPT, havia a promessa de salário de R$ 1.375, mais bônus se o empregado batesse a meta de arregimentar 50 pessoas por mês. O trabalho era feito em casa, com agendamento das novas vítimas pelo site da empresa. A carteira era assinada, mas nenhum dos prejudicados recebeu pagamento. Para Carelli, o contrato é “absurdo”. Nele consta que, após três semanas sem cumprir a meta de trazer novos trabalhadores, o empregado “será considerado improdutivo”, e o contrato, rescindido. Fábio Moraes não foi localizado pelo GLOBO.

As vítimas estão se unindo. Há três grupos no WhatsApp, com cerca de 170 pessoas que trocam informações e acompanham as investigações. Larissa Silva Marques conseguiu indicar 25 pessoas para o emprego. Trabalhou por 20 dias, teve a carteira assinada, mas descobriu no Ministério do Trabalho que o papel colado no seu documento de nada valia:

— Depois que já estava trabalhando é que percebi a pirâmide. Eles reuniam cerca de cem pessoas por entrevista. Três grupos por dia, de segunda a sexta.