Desempregado há quatro anos, morador de Salvador distribui currículos em semáforos

Desempregado há quatros anos, o técnico de laboratório Cristiano Rosa, de 44 anos, cansou de bater na porta de empresas para conseguir um novo trabalho e decidiu adotar uma nova estratégia. Ele passou a distribuir, desde a terça-feira (12), os próprios currículos em semáforos de Salvador para tentar uma oportunidade de emprego. Já foram mais de 300 documentos entregues em dois dias.

“Comecei a distribuir os currículos na sinaleira em frente ao Iguatemi. Foram 260 no primeiro dia e no segundo foram 60, porque não consegui mais dinheiro. Mas vou continuar até conseguir”, afirma.

No semáforo, ele aborda os motoristas que abrem as janelas dos carros e a maioria aceita. A distribuição dos documentos nas sinaleiras gera surpresa de quem recebe. “Eu imaginei receber qualquer coisa na sinaleira, menos um currículo. É a necessidade. Está difícil, mas boa sorte”, disse uma das pessoas que obteve um dos currículos.

“São sentimentos bons e ruins. Infelizmente, algumas pessoas não abrem os vidros, até temem pela própria violência. Outros ficam indiferentes, o que me marcou foi um senhor que tirou da carteira R$ 50 para me dar, mas eu agradeci e disse a ele que não estava precisando do dinheiro dele, e sim do trabalho”, contou Cristiano.

Desde que começou a trabalhar, aos 12 anos, ele coleciona certificados de cursos, especializações e jornadas de estudos. Já trabalhou nas áreas de laboratório e segurança patrimonial, atuando no nível técnico e de gerenciamento.

Cristiano lamenta que precise da ajuda da família para o sustento financeiro, o que acaba deixando a mulher dele com mais trabalho para suprir a necessidade. “Minha esposa é professora de música, trabalha em um local e, fora disso, tem alunos particulares. Ela sai 6h30 e chega 21h30, de segunda a sexta, para tentar suprir a falta que está fazendo porque não estou trabalhando”, diz ele.

Ainda assim, ele tem esperança de que possa garantir um emprego para voltar a contribuir com a renda familiar. “Fui criado sem pai, só com mãe, e na hora do almoço, minha mãe colocava o almoço para os quatro filhos. Esperava os quatro se alimentarem, se sobrava, ela comia e se não, ela passava o dia alegre e satisfeita. Eu guardei isso para minha vida e faço da mesma forma com minhas filhas. Estou tentando buscar oportunidade de criá-las de forma digna, como assim eu fui também”, afirmou.