Dilma afirma que não renuncia ao mandato

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (11) durante entrevista coletiva convocada pela assessoria do Palácio do Planalto que não renunciará ao mandato.

Na última quarta-feira (9), o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, principal partido de oposição, sugeriu a renúncia da presidente como saída para as crises política e econômica.

“Eu acredito que não é absolutamente correto por parte de nenhum líder da oposição pedir a renúncia de um cargo de presidente legitimamente eleito pelo povo, sem dar elementos comprovatórios de que eu tenha, de alguma forma, ferido qualquer inciso da Constituição ou qualquer previsão que haja na Constituição para meu impeachment”, declarou.

Na entrevista, Dilma fez um apelo aos repórteres que estavam no Planalto: “Por favor, pelo menos testemunhem que eu não tenho cara de quem vai renunciar.”

Segundo a presidente, “a renúncia é um ato voluntário. Aqueles que querem a renúncia estão reconhecendo que não há uma base real para pedir a minha saída desse cargo. Portanto, por interesses políticos de quem quer que seja, por definições de quem quer que seja, eu não sairei desse cargo sem que haja motivo para tal”.

Na última quarta, em pronunciamento na tribuna do Senado, Aécio Neves, derrotado por Dilma no segundo turno da eleição presidencial de 2014, propôs que, “num gesto magnânimo, num gesto generoso para com o país, a presidente da República, compreendendo que perdeu as condições mínimas de governar, permita que, com a sua renúncia, o Brasil inicie uma nova etapa na sua história”.

Impeachment
A presidente afirmou que não há base para a tentativa de removê-la da Presidência por meio de um processo de impeachment, que tramita na Câmara dos Deputados.

“Solicitar a minha renúncia é reconhecer que não existe base para impeachment. Ou então tentem o impeachment, e nós vamos disputar isso, nós vamos discutir com a sociedade, com o país inteiro por que querem tirar um presidente legitimamente eleito. Não há base para qualquer ato contra a minha pessoa”, declarou.

Resignação
Indagada sobre se estaria “resignada” diante de um eventual afastamento da Presidência, Dilma afirmou que não é do seu perfil estar resignada frente a dificuldades.

“Eu não estou resignada diante de nada. Não tenho esta postura diante da vida”, disse. “Tem dó, esta história de resignação não é comigo, não”, complementou.

Lula
Dilma deu as declarações após participar de um encontro com reitores de universidades federais no qual, segundo os reitores, fez a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a prisão preventiva pedida por promotores do Ministério Público de São Paulo.

Segundo a presidente, o pedido de prisão  “passou de todos os limites”.Dilma ressaltou que seu governo repudia em “gênero, número e grau” a iniciativa dos promotores de Justiça de pedir a prisão do ex-presidente.

Questionada sobre a nomeação de Lula para ministro do governo, ela afirmou que não discute como forma o ministério.

“Teria o maior orgulho de ter o presidente Lula no meu governo porque ele é uma pessoa com experiência, com grande capacidade de formulação de políticas – e estou dizendo da capacidade gerencial do presidente Lula – e por isso posso garantir que teria um orgulho de tê-lo no meu governo. Mas não vou discutir com você se ele vai ser ou não vai ser”, declarou.

Manifestações
Dilma fez um “grande apelo” para que as manifestações programadas para o próximo domingo (13) ocorram de forma pacífica. Ela disse que protestos são “momento importante” para o país porque, segundo disse, afirmam a democracia. Ela pediu que os atos não sejam “manchados” por episódios de violência.

“Isso é uma questão que eu peço como presidenta da República: a gente tem de manter aquelas que são as vitórias da democracia brasileira. Sem dúvida, uma dessas vitórias da democracia brasileira é o direito de livre manifestação. Não cabe, de jeito nenhum, a gente perder este patrimônio da tolerância, característica do nosso país”, declarou.

Ministério da Justiça
A presidente também falou sobre a situação do ministro da Justiça, Wellington Lima e Silva.
Na última quarta (9), o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que integrantes do Ministério Público não podem ocupar cargo no Executivo e deram 20 dias para Lima e Silva decidir se abrirá mão do cargo no governo ou renunciará à carreira de procurador.

“Sobre decisão do Supremo, eu não acho. Eu cumpro”, limitou-se a declarar a presidente.

Perguntada sobre se pedirá ao ministro para permanecer no cargo, respondeu: “Eu vou olhar para ele e dizer: ‘Meu querido, você decida o seu destino de acordo com as suas convicções e com aquilo que lhe é interessante’. Ele tem 25 anos de Ministério Público e não cabe a mim fazer nenhum apelo. Não posso prejudicar ninguém”.

Ministro da Fazenda
Na entrevista, Dilma foi indagada sobre se o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, estaria enfraquecido no cargo.
Ao responder, ela demonstrou irritação, atribuindo os questionamentos a uma suposta tentativa de enfraquecê-lo.

De acordo com a presidente, “não existe a hipótese” de Barbosa deixar o governo neste momento.
“Essa questão de ficar perguntando se ele [Barbosa] está firme no cargo é um processo, inequivocadamente, uma tentativa de enfraquecimento do ministro. Ele não está enfraquecido. Não existe essa hipótese, e críticas são normais. Ou bem vivemos na democracia ou não vivemos”, afirmou.

Reforma da Previdência
Dilma também dedicou parte da entrevista à imprensa para falar sobre a reforma da Previdência.
O governo defende mudanças no atual sistema e articula para enviar entre abril e maio uma proposta para o Congresso Nacional.

Mesmo com a previsão de rombo superior a R$ 129 bilhões neste ano na Previdência, a reforma enfrenta resistência por parte de parlamentares, incluindo os do PT.

“Estamos fazendo uma avaliação apurada sobre isso. E quando digo que estamos avaliando, estamos avaliando. Todo mundo sabe que a reforma da Previdência e a CPMF são questões que têm dificuldades porque são questões complexas e vão exigir muita dedicação da nossa parte. Estamos avaliando. Não podemos ser ‘Joãozinho do passo certo’. Temos de ver com as forças políticas como as coisas se darão”, disse.